terça-feira, 24 de março de 2009

EMPOBRECIMENTO DO MUNICÍPIO DE GLÓRIA

DEMONSTRATIVO DO EMPOBRECIMENTO DO MUNICÍPIO DE GLÓRIA EM
COMPARAÇÃO COM OS MUNICÍPIOS DE RODELAS, CHORROCHÓ E ABARÉ E
COM O ESTADO DA BAHIA


O presente trabalho objetiva contribuir na discussão sobre as razões do empobrecimento do município de Glória e enfatizar a necessidade de mudar a destinação da população ribeirinha do Lago de Moxotó. Se a agropecuária no Município de Glória é incipiente, nas margens do Lago ela é inexistente por ser totalmente inviável.
Os dados aqui lançados referem-se ao período 2002/2005 e foram extraídos de trabalho elaborado pela SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS do Governo do Estado da Bahia e divulgado pela internet e do site do IBGE referentes aos Censos de 2000 e 2006..
O empobrecimento do Município vislumbra-se, de plano, a um súbito golpe de vista quando analisamos a Estrutura Setorial para formação do PIB Municipal. Nele, a atividade agropecuária vem decaindo ano após ano e a dependência de recursos públicos cresce cada vez mais, como provam os números a seguir:
2002: BAHIA – AGROPECUÁRIA 10,52%; INDÚSTRIA 28,81%; SERVIÇOS 60,67%.
2002: GLÓRIA - AGROPECUÁRIA 21,19%; INDÚSTRIA 12,15%; SERVIÇOS 66,66%.
2003: BAHIA – AGROPECUÁRIA 10,61%; INDÚSTRIA 28,76%; SERVIÇOS 60,63%.
2003: GLÓRIA - AGROPECUÁRIA 16,06%; INDÚSTRIA 12,50%; SERVIÇOS 71,44%.
2004: BAHIA – AGROPECUÁRIA 10,83%; INDÚSTRIA 30,70%; SERVIÇOS 58,47%.
2004: GLÓRIA - AGROPECUÁRIA 14,44%; INDÚSTRIA 12,27%; SERVIÇOS 73,28%.
2005: BAHIA – AGROPECUÁRIA 8,60%; INDÚSTRIA 32,16%; SERVIÇOS 59,24%.
2005: GLÓRIA - AGROPECUÁRIA 11,13%; INDÚSTRIA 14,23%; SERVIÇOS 74,64%.
Observe-se que em 2002 o setor agropecuário do Município respondia com 21,19% para a formação do PIB Municipal e em 2005 o percentual já havia caído para 11,13%. O contrário ocorreu no item serviços (que engloba os recursos públicos) que em 2002 tinha uma participação de 66,66% e em 2005 subiu para 74,64%. Ou seja, o Município de Glória passou a depender mais dos recursos públicos externos do que de sua própria riqueza. Ficou mais dependente.
É verdade que em 2005 todo O Estado da Bahia teve uma queda em sua produção agropecuária, no entanto, conforme se vê do demonstrativo na página seguinte, a diminuição na produção agropecuária de Glória passou a ser uma constante. Para fim meramente comparativo buscamos os dados relativos aos Municípios de Rodelas, Chorrochó e Abaré que como Glória, estão todos situados as margens do Rio São Francisco e possuem, praticamente, a mesma qualidade de solo.
Constata-se que em 2003 todos cresceram menos Glória que perdeu 20,8%. Abaré com um crescimento de 65,7% e Rodelas com um crescimento surpreendente de 174,1% são provas de que o empobrecimento de Glória não é um caso geral, mas isolado, pois Chorrochó, mesmo crescendo pouco, vem crescendo de forma lenta e constante ao ponto de, em 2005, quando todos perderam, Chorrochó foi quem menos perdeu. Ficou praticamente estável. Isto mostra solidez no crescimento do setor agropecuário do município de Chorrochó.
Se compararmos 2005 com 2002, veremos que em termos de produção agropecuária, todos cresceram, menos Glória. Vejamos os dados em milhões de reais e a diferença percentual para mais ou para menos:
BAHIA:
2002 – 5.542,90
2003 – 6.289,46 (mais 13,5%);
2004 – 7.372,16 (mais 17,2%);
2005 – 6.725,96 (menos 8,8% em relação a 2004).

GLÓRIA:
2002 – 4,91
2003 – 3,89 (menos 20,8% em relação a 2002)
2004 – 3,59 (menos 7,5% em relação a 2003)
2005 – 3,18 (menos 11,6% em relação a 2004).

ABARÉ:
2002 – 3,50
2003 – 5,80 (mais 65,7% em relação a 2002)
2004 – 3,90 (menos 32,8% em relação a 2003)
2005 – 3,62 (menos 7,0% em relação a 2004).

CHORROCHÓ:
2002 – 1,16
2003 – 1,24 (mais 6,6% em relação a 2002)
2004 – 1,31 (mais 6,1% em relação a 2003)
2005 – 1,30 (menos 0,7% em relação a 2004).

RODELAS:
2002 – 1,10
2003 – 3,02 (mais 174,1% em relação a 2002)
2004 – 1,84 (Menos 38,9% em relação a 2003)
2005 – 1,75 (menos 5,3% em relação a 2004).

Conversando com seu povo, expulso que foi duas vezes de suas terras, a gente sente a revolta e a desilusão. As melhores terras estão debaixo d’água, Mas as melhores terras de Rodelas e Chorrochó estão debaixo d’água, também.
Prova de que faltou interesse de agir de parte dos ex-governantes de Glória é a análise que se faz do PIB municipal em confronto com o PIB do Estado da Bahia e, dos Municípios de Abaré, Chorrochó e Rodelas. Para se ter uma idéia, variação 2002/2005, analisemos os dados abaixo:

PIB EM MILHÕES DE REAIS:
2002: PIB BAHIA 60.671,84
2005: PIB BAHIA 90.942,99 (mais 49,9% em relação a 2002).
2002: PIB RODELAS 11,18
2005: PIB RODELAS 18,90 (mais 69,1% em relação a 2002).
2002: PIB CHORROCHÓ 11,88
2005: PIB CHORROCHÓ 18,45 (mais 55,3% em relação a 2002).
2002: PIB ABARÉ 20,15
2005: PIB ABARÉ 28,93 (mais 43,6% em relação a 2002).
2002: PIB GLÓRIA 23,99
2005: PIB GLÓRIA 29,57 (mais 23,3% em relação a 2002).
Atentem para o fato de que Glória foi o município que menos cresceu.

PIB PERCÁPITA EM REAL:
2002: PIBPC BAHIA R$ 4.524,67
2005: PIBPC BAHIA R$ 6.582,76 (mais 45,5% em relação a 2002).
2002: PIBPC RODELAS R$ 1.640,58
2005: PIBPC RODELAS R$ 2.524,14 (mais 53,9% em relação a 2002).
2002: PIBPC CHORROCHÓ R$ 1.150,14
2005: PIBPC CHORROCHÓ R$ 1.752,73 (mais 52,4% em relação a 2002).
2002: PIBPC ABARÉ R$ 1.412,47
2005: PIBPC ABARÉ R$ 1.925,38 (mais 36,3% em relação a 2002).
2002: PIBPC GLÓRIA R$ 1.593,94
2005: PIBPC GLÓRIA R$ 1.889,51 (mais 18,5% em relação a 2002).

Note-se que o PIB da Bahia cresceu no período 2002/2005 49,9%. O de Abaré, 43,6%; o de Chorrochó, 55,3%, o de Rodelas 69,1% enquanto o de Glória cresceu, apenas, 23,3%.
Disparate maior é quando analisamos a variação da renda percápita e constatamos que o povo em geral do Estado da Bahia, no período 2002/2005 enriqueceu 45,5%; o de Abaré, 36,3%; o de Chorrochó, 52,4%, o de Rodelas 53,9% enquanto o de Glória cresceu somente 18,5%.
Observem o PIB PC de Chorrochó em 2002 (R$ 1.150,14) e o de 2005 (R$ 1.752,73) e a conclusão lógica é a de que já em 2006 Chorrochó, provavelmente, tenha ultrapassado Glória.
A coisa fica mais grave ainda, quando vemos que no mesmo período a população de Abaré, Chorrochó e Rodelas cresceu, ou seja, o divisor aumentou, enquanto que a população de Glória diminuiu. Ficou com um divisor mais favorável. Vejamos o quadro a seguir:

ABARÉ, com área de 1.694 km2:
2001: 13.638 habitantes e em 1/4/2007, 17.342 habitantes, ou seja, 27% a mais;
RODELAS, com área de 2.575 km2:
2001: 6.260 habitantes e em 1/4/2007, 7.023 habitantes, ou seja, 12% a mais;
CHORROCHÓ, com área de 2.648 km2:
2001: 10.171 habitantes e em 1/4/2007, 10.571 habitantes, ou seja, 4% a mais;
GLÓRIA, com área de 1.402 km2:
2001: 14.559 habitantes e em 1/4/2007, 13.879 habitantes, ou seja, 5% a MENOS;

Ressalte-se que todos os dados aqui coletados foram fornecidos pela SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS do Governo do Estado da Bahia e não julgamos necessário irmos em busca de dados mais atuais ante a tendência que estes números demonstram.

É claro e evidente que os demais itens levantados para a formação do PIB têm a sua importância, mas no caso de municípios como Rodelas, Chorrochó e Abaré os itens indústria, serviços e recursos públicos tem seus valores inferiores aos de Glória enquanto a produção agropecuária, ao contrário, apresenta melhoras significativas.

Para se ter uma idéia de quão gritante e absurdo são os números, olhemos o quadro abaixo, da variação da produção agropecuária em milhões de reais, numa comparação entre os anos de 2002 e 2005:

BAHIA: produção agropecuária em 2002 de 5.542,90 e em 2005 de 6.725,96, numa variação para mais de 21,3%, reputada boa;
RODELAS: produção agropecuária em 2002 de 1,10 e em 2005 de 1,75 numa variação para mais de 58,5%, reputada ótima;
CHORROCHO: produção agropecuária em 2002 de 1,16 e em 2005 de 1,30 numa variação para mais de 12,3%, reputada boa;
ABARÉ: produção agropecuária em 2002 de 3,50 e em 2005 de 3,62 numa variação para mais de 3,6%, reputada estável;
GLÓRIA: produção agropecuária em 2002 de 4,91 e em 2005 de 3,18 numa variação para MENOS de 35,2%, reputada PÉSSIMA;
A conclusão inexorável a que se chega é de que o povo de Glória precisa ser animado, incentivado, ter restituída a sua vida. Mas o “povo de Glória” que aqui se fala é o povo da Cidade, do Malembá, do Porto da Serra, de Freitas, do Torquato, de Queimadas, da Quixaba, ou seja, quase a metade da população do Município que não mais tem condições de explorar a agricultura ou a pecuária. A alternativa que lhe resta é a exploração do Turismo como uma das possibilidades de melhoria de renda.
Nas outras regiões do Município será possível se desenvolver um trabalho voltado à melhoria de sua agropecuária. As terras, se não são de excelente qualidade, também são das piores, o que falta é a água, verdadeira contradição, sabido que o Município de Glória limita-se com dois importantes lagos, Moxotó e Itaparica. Moxotó pode fornecer, também, além de água, adubo, tema de nosso próximo artigo.

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