terça-feira, 24 de março de 2009

EMPOBRECIMENTO DO MUNICÍPIO DE GLÓRIA

DEMONSTRATIVO DO EMPOBRECIMENTO DO MUNICÍPIO DE GLÓRIA EM
COMPARAÇÃO COM OS MUNICÍPIOS DE RODELAS, CHORROCHÓ E ABARÉ E
COM O ESTADO DA BAHIA


O presente trabalho objetiva contribuir na discussão sobre as razões do empobrecimento do município de Glória e enfatizar a necessidade de mudar a destinação da população ribeirinha do Lago de Moxotó. Se a agropecuária no Município de Glória é incipiente, nas margens do Lago ela é inexistente por ser totalmente inviável.
Os dados aqui lançados referem-se ao período 2002/2005 e foram extraídos de trabalho elaborado pela SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS do Governo do Estado da Bahia e divulgado pela internet e do site do IBGE referentes aos Censos de 2000 e 2006..
O empobrecimento do Município vislumbra-se, de plano, a um súbito golpe de vista quando analisamos a Estrutura Setorial para formação do PIB Municipal. Nele, a atividade agropecuária vem decaindo ano após ano e a dependência de recursos públicos cresce cada vez mais, como provam os números a seguir:
2002: BAHIA – AGROPECUÁRIA 10,52%; INDÚSTRIA 28,81%; SERVIÇOS 60,67%.
2002: GLÓRIA - AGROPECUÁRIA 21,19%; INDÚSTRIA 12,15%; SERVIÇOS 66,66%.
2003: BAHIA – AGROPECUÁRIA 10,61%; INDÚSTRIA 28,76%; SERVIÇOS 60,63%.
2003: GLÓRIA - AGROPECUÁRIA 16,06%; INDÚSTRIA 12,50%; SERVIÇOS 71,44%.
2004: BAHIA – AGROPECUÁRIA 10,83%; INDÚSTRIA 30,70%; SERVIÇOS 58,47%.
2004: GLÓRIA - AGROPECUÁRIA 14,44%; INDÚSTRIA 12,27%; SERVIÇOS 73,28%.
2005: BAHIA – AGROPECUÁRIA 8,60%; INDÚSTRIA 32,16%; SERVIÇOS 59,24%.
2005: GLÓRIA - AGROPECUÁRIA 11,13%; INDÚSTRIA 14,23%; SERVIÇOS 74,64%.
Observe-se que em 2002 o setor agropecuário do Município respondia com 21,19% para a formação do PIB Municipal e em 2005 o percentual já havia caído para 11,13%. O contrário ocorreu no item serviços (que engloba os recursos públicos) que em 2002 tinha uma participação de 66,66% e em 2005 subiu para 74,64%. Ou seja, o Município de Glória passou a depender mais dos recursos públicos externos do que de sua própria riqueza. Ficou mais dependente.
É verdade que em 2005 todo O Estado da Bahia teve uma queda em sua produção agropecuária, no entanto, conforme se vê do demonstrativo na página seguinte, a diminuição na produção agropecuária de Glória passou a ser uma constante. Para fim meramente comparativo buscamos os dados relativos aos Municípios de Rodelas, Chorrochó e Abaré que como Glória, estão todos situados as margens do Rio São Francisco e possuem, praticamente, a mesma qualidade de solo.
Constata-se que em 2003 todos cresceram menos Glória que perdeu 20,8%. Abaré com um crescimento de 65,7% e Rodelas com um crescimento surpreendente de 174,1% são provas de que o empobrecimento de Glória não é um caso geral, mas isolado, pois Chorrochó, mesmo crescendo pouco, vem crescendo de forma lenta e constante ao ponto de, em 2005, quando todos perderam, Chorrochó foi quem menos perdeu. Ficou praticamente estável. Isto mostra solidez no crescimento do setor agropecuário do município de Chorrochó.
Se compararmos 2005 com 2002, veremos que em termos de produção agropecuária, todos cresceram, menos Glória. Vejamos os dados em milhões de reais e a diferença percentual para mais ou para menos:
BAHIA:
2002 – 5.542,90
2003 – 6.289,46 (mais 13,5%);
2004 – 7.372,16 (mais 17,2%);
2005 – 6.725,96 (menos 8,8% em relação a 2004).

GLÓRIA:
2002 – 4,91
2003 – 3,89 (menos 20,8% em relação a 2002)
2004 – 3,59 (menos 7,5% em relação a 2003)
2005 – 3,18 (menos 11,6% em relação a 2004).

ABARÉ:
2002 – 3,50
2003 – 5,80 (mais 65,7% em relação a 2002)
2004 – 3,90 (menos 32,8% em relação a 2003)
2005 – 3,62 (menos 7,0% em relação a 2004).

CHORROCHÓ:
2002 – 1,16
2003 – 1,24 (mais 6,6% em relação a 2002)
2004 – 1,31 (mais 6,1% em relação a 2003)
2005 – 1,30 (menos 0,7% em relação a 2004).

RODELAS:
2002 – 1,10
2003 – 3,02 (mais 174,1% em relação a 2002)
2004 – 1,84 (Menos 38,9% em relação a 2003)
2005 – 1,75 (menos 5,3% em relação a 2004).

Conversando com seu povo, expulso que foi duas vezes de suas terras, a gente sente a revolta e a desilusão. As melhores terras estão debaixo d’água, Mas as melhores terras de Rodelas e Chorrochó estão debaixo d’água, também.
Prova de que faltou interesse de agir de parte dos ex-governantes de Glória é a análise que se faz do PIB municipal em confronto com o PIB do Estado da Bahia e, dos Municípios de Abaré, Chorrochó e Rodelas. Para se ter uma idéia, variação 2002/2005, analisemos os dados abaixo:

PIB EM MILHÕES DE REAIS:
2002: PIB BAHIA 60.671,84
2005: PIB BAHIA 90.942,99 (mais 49,9% em relação a 2002).
2002: PIB RODELAS 11,18
2005: PIB RODELAS 18,90 (mais 69,1% em relação a 2002).
2002: PIB CHORROCHÓ 11,88
2005: PIB CHORROCHÓ 18,45 (mais 55,3% em relação a 2002).
2002: PIB ABARÉ 20,15
2005: PIB ABARÉ 28,93 (mais 43,6% em relação a 2002).
2002: PIB GLÓRIA 23,99
2005: PIB GLÓRIA 29,57 (mais 23,3% em relação a 2002).
Atentem para o fato de que Glória foi o município que menos cresceu.

PIB PERCÁPITA EM REAL:
2002: PIBPC BAHIA R$ 4.524,67
2005: PIBPC BAHIA R$ 6.582,76 (mais 45,5% em relação a 2002).
2002: PIBPC RODELAS R$ 1.640,58
2005: PIBPC RODELAS R$ 2.524,14 (mais 53,9% em relação a 2002).
2002: PIBPC CHORROCHÓ R$ 1.150,14
2005: PIBPC CHORROCHÓ R$ 1.752,73 (mais 52,4% em relação a 2002).
2002: PIBPC ABARÉ R$ 1.412,47
2005: PIBPC ABARÉ R$ 1.925,38 (mais 36,3% em relação a 2002).
2002: PIBPC GLÓRIA R$ 1.593,94
2005: PIBPC GLÓRIA R$ 1.889,51 (mais 18,5% em relação a 2002).

Note-se que o PIB da Bahia cresceu no período 2002/2005 49,9%. O de Abaré, 43,6%; o de Chorrochó, 55,3%, o de Rodelas 69,1% enquanto o de Glória cresceu, apenas, 23,3%.
Disparate maior é quando analisamos a variação da renda percápita e constatamos que o povo em geral do Estado da Bahia, no período 2002/2005 enriqueceu 45,5%; o de Abaré, 36,3%; o de Chorrochó, 52,4%, o de Rodelas 53,9% enquanto o de Glória cresceu somente 18,5%.
Observem o PIB PC de Chorrochó em 2002 (R$ 1.150,14) e o de 2005 (R$ 1.752,73) e a conclusão lógica é a de que já em 2006 Chorrochó, provavelmente, tenha ultrapassado Glória.
A coisa fica mais grave ainda, quando vemos que no mesmo período a população de Abaré, Chorrochó e Rodelas cresceu, ou seja, o divisor aumentou, enquanto que a população de Glória diminuiu. Ficou com um divisor mais favorável. Vejamos o quadro a seguir:

ABARÉ, com área de 1.694 km2:
2001: 13.638 habitantes e em 1/4/2007, 17.342 habitantes, ou seja, 27% a mais;
RODELAS, com área de 2.575 km2:
2001: 6.260 habitantes e em 1/4/2007, 7.023 habitantes, ou seja, 12% a mais;
CHORROCHÓ, com área de 2.648 km2:
2001: 10.171 habitantes e em 1/4/2007, 10.571 habitantes, ou seja, 4% a mais;
GLÓRIA, com área de 1.402 km2:
2001: 14.559 habitantes e em 1/4/2007, 13.879 habitantes, ou seja, 5% a MENOS;

Ressalte-se que todos os dados aqui coletados foram fornecidos pela SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS do Governo do Estado da Bahia e não julgamos necessário irmos em busca de dados mais atuais ante a tendência que estes números demonstram.

É claro e evidente que os demais itens levantados para a formação do PIB têm a sua importância, mas no caso de municípios como Rodelas, Chorrochó e Abaré os itens indústria, serviços e recursos públicos tem seus valores inferiores aos de Glória enquanto a produção agropecuária, ao contrário, apresenta melhoras significativas.

Para se ter uma idéia de quão gritante e absurdo são os números, olhemos o quadro abaixo, da variação da produção agropecuária em milhões de reais, numa comparação entre os anos de 2002 e 2005:

BAHIA: produção agropecuária em 2002 de 5.542,90 e em 2005 de 6.725,96, numa variação para mais de 21,3%, reputada boa;
RODELAS: produção agropecuária em 2002 de 1,10 e em 2005 de 1,75 numa variação para mais de 58,5%, reputada ótima;
CHORROCHO: produção agropecuária em 2002 de 1,16 e em 2005 de 1,30 numa variação para mais de 12,3%, reputada boa;
ABARÉ: produção agropecuária em 2002 de 3,50 e em 2005 de 3,62 numa variação para mais de 3,6%, reputada estável;
GLÓRIA: produção agropecuária em 2002 de 4,91 e em 2005 de 3,18 numa variação para MENOS de 35,2%, reputada PÉSSIMA;
A conclusão inexorável a que se chega é de que o povo de Glória precisa ser animado, incentivado, ter restituída a sua vida. Mas o “povo de Glória” que aqui se fala é o povo da Cidade, do Malembá, do Porto da Serra, de Freitas, do Torquato, de Queimadas, da Quixaba, ou seja, quase a metade da população do Município que não mais tem condições de explorar a agricultura ou a pecuária. A alternativa que lhe resta é a exploração do Turismo como uma das possibilidades de melhoria de renda.
Nas outras regiões do Município será possível se desenvolver um trabalho voltado à melhoria de sua agropecuária. As terras, se não são de excelente qualidade, também são das piores, o que falta é a água, verdadeira contradição, sabido que o Município de Glória limita-se com dois importantes lagos, Moxotó e Itaparica. Moxotó pode fornecer, também, além de água, adubo, tema de nosso próximo artigo.

HUMILDADE DO ADMINISTRADOR PÚBLICO

É sabido que a palavra “humildade” vem do Latim “humus” que significa “filhos da terra”. Quando Deus disse a Davi que Ele o tinha escolhido para ser rei, Davi prostrou-se diante de Deus e exclamou: "Nada fiz de merecedor, todas as minhas realizações foram inteiramente as Tuas ações". Davi foi humilde porque sabia que quem é humilde cresce sempre e quem é orgulhoso fica estagnado, iludido na falsa posição de superioridade.

Esta introdução é dirigida a todos aqueles que servem ao Poder Público e que no dizer de CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO recebem a denominação de Agentes Públicos. Em sendo assim, estão englobados nesta expressão desde o Chefe do Poder Executivo até os contratados.

O saudoso Prof. Oswaldo Aranha Bandeira de Mello em preciosa monografia intitulada “Teoria dos Servidores Públicos”, encartada que foi na Revista de Direito Público, vol. 1, p. 40, afirmou que os agentes públicos podem ser divididos em: agentes políticos (Prefeito e Vereadores no município), servidores públicos (Secretários e demais funcionários remunerados) e colaboradores do Ente Estatal (concessionários e permissionários de serviços públicos etc).

Secretário, como se vê, é Servidor Público. Servidor, em informática, é um sistema de computação que fornece serviços a uma rede de computadores. Servidores Públicos são prestadores de serviços, jungidos à Administração Pública e em razão disso arcarão com responsabilidade, em caso de uma conduta incompatível com as regras jurídicas, podendo, até mesmo, figurar no pólo de autoridade coatora em impetração de mandado de segurança.

Ao se elencar o plano dos deveres funcionais do Secretário e dos demais Servidores Públicos (imprescindível para a abordagem da questão da qualificação do atendimento ao Público), o mesmo deve pautar-se pelos seguintes prismas:

1. Quanto à legalidade: onde há de observar as normas legais e regulamentares, principalmente à conformação delas com a Constituição Federal, cujos princípios haverão de ser o parâmetro para a interpretação dos demais dispositivos legais.

2. No que tange ao aspecto comportamental: pautar-se com um agir compatível com a moralidade administrativa; bem como levar ao conhecimento do superior hierárquico as irregularidades, omissões ou abuso de poder e, por fim, cumprir ordens do superior, salvo se forem manifestamente ilegais.

3. Em relação ao serviço público especificamente: ser leal com a instituição a que serve; exercer com zelo e dedicação as suas atribuições; ser assíduo e pontual; envidar esforços pela economia do material, guardar sigilo sobre o assunto da repartição.

4. Em relação ao público: atendê-lo com presteza e urbanidade. Ao negritarmos este item o fizemos porque é o tema central deste trabalho.

Nunca é demais ressaltar que no campo do dever funcional de bem atender os administrados, além dos princípios da legalidade, da moralidade e da impessoalidade, insertos no art. 37, caput, da nossa Carta Política, sinalizados estão outros princípios que visam a um bom nível de atendimento por parte dos servidores públicos. Como exemplo, temos:

1.º - A cortesia e a boa vontade que caracteriza o esforço do servidor pela boa assimilação do contido no conceito de disciplina;

2.º) Evitar tratar mal uma pessoa que paga seus tributos, direta ou indiretamente, pois isto pode causar-lhe um dano moral com prejuízo futuro para a administração;

3.º) Deixar o servidor que pessoas fiquem esperando-o, sem justa causa, e, por isso mesmo, ocasionar longas filas, ou qualquer outra forma de atraso na prestação do serviço, equivale, não só a um desvio ético, mas, igualmente, um grave dano moral aos usuários do serviço público em questão sendo causa, também, de capitulação no delito de improbidade.

4.º) Deve, o servidor público, ao lidar com os usuários, respeitar as limitações individuais de cada um, sem qualquer espécie de preconceito.

5.º) Manter-se atualizado com relação às instruções e normas que regem a atividade pública, retirando dúvidas, se existentes, junto ao setor jurídico especializado;

6.º) É vedado ao servidor deixar de utilizar-se dos avanços técnicos e científicos a seu alcance para o atendimento de seu mister.

7.º) A explicitação dos atos administrativos haverá de vir em despachos fundamentados, sob pena de nulidade. Sobre a motivação, em atos administrativos, cumpre lembrar que é ela quem traduz o motivo da prática deles, e, sabidamente, o motivo é um dos requisitos estruturais da própria essência dos atos administrativos.

Estas regrinhas, por simples que sejam obrigatoriamente tem que ser respeitada. E quando elas são desrespeitadas por um secretário ou chefe de setor, que tem a obrigação de dar o bom exemplo, a falta torna-se mais grave.

Qualquer funcionário, só pelo fato de ser graduado ou de ter trabalhado em multinacional, ou mesmo pela simples razão de ser empresário de sucesso, não está desobrigado de respeitar o contido no art. 37, caput, da nossa Carta Política e, por via de conseqüência, de cumprir as sete regrinhas acima.

Inadmissível, portanto, que um Servidor Público, falte com o respeito a um cidadão, seja ele quem for. O Servidor Público tem todo o direito de ter suas simpatias e preferências em termos de parentes, de amigos e de times de futebol. Todavia, em se tratando de assuntos da administração pública, sob sua responsabilidade, ele não pode ter preferências nem simpatias e a todos tratar igualitariamente com cortesia e boa vontade, evitando tratar mal as pessoas, mesmo que seja para dar um não. Deve ser humilde sem subserviência. Não deve ser arrogante nem prepotente.

E se o Servidor Público é orgulhoso, arrogante, prepotente, conta muitas vantagens, adula a imprensa para ser capa de jornal, considera-se a peça mais importante da engrenagem, deve ele ser advertido de sua real importância.

Afinal de contas ele precisa saber que chefes e subordinados, ricos e pobres, somos todos “filhos da terra” e um dia viraremos adubo. Não deve ele esquecer que a palavra “humildade” vem do Latim “humus”...

segunda-feira, 23 de março de 2009

LAGO DE MOXOTÓ: SUA EXPLORAÇÃO

INTRODUÇÃO:


É sabido que as infra-estruturas urbana e turística estão na base da atratividade dos lugares para o turismo, considerando-se, inclusive, suas modalidades ditas alternativas (ecológico, de aventura etc). O município de Glória teve submersas suas melhores áreas agricultáveis. Em contrapartida ganhou uma represa (Moxotó) que convenientemente explorada poderá compensar a perca das terras antes destinadas a agricultura.

Maria Tereza Luchiari afirma que “as paisagens turísticas, por sua vez, não existem, a priori, como um dado da natureza” e Rita de Cássia Cruz, em sua preciosa obra “Política de Turismo e Território” conclui: “Diferentemente das paisagens urbanas, das paisagens rurais, das paisagens industriais... as paisagens turísticas não são caracterizadas por um sistema de objetos que lhe seja particular, específico. As paisagens turísticas derivam da valorização cultural de determinados aspectos das paisagens, de modo geral, e, nesse sentido, toda paisagem pode ser turística.“.

Ora, se toda paisagem pode ser turística, Glória tem uma das melhores paisagens do mundo.


EXEMPLOS DE ÁREAS TRANSFORMADAS:

É ponto pacífico que o turismo concorre para o processo de transformação dos territórios para seu uso, e sua força é dada por sua capacidade “de criar, de transformar e, inclusive, de valorizar, diferentemente, espaços que podiam não ter valor no contexto da lógica de produção... (Daniel H. Nicolas in ”Teoria y práxis del espacio turístico”. México, 1989, apud Rita de Cássia Cruz op. cit. Pág, 17).

Quem visita Buenos Aires é convidado pelos agentes de turismo receptivo a fazer o passeio no Trem de La Costa e, em Tigre, no delta do Rio de La Plata, a fazer um passeio de escuna ou catamarã onde são mostradas as casas construídas nas margens do rio. Os turistas pagam caro para ver a casa dos ribeirinhos. A visão geral é muito bonita.

É verdade que não podemos comparar, atualmente, a realidade de Buenos Aires com Paulo Afonso nem a de Glória com Tigre. O exemplo retro citado de Tigre, na Argentina, foi em função da exploração do Rio de La Plata que ensejou, depois, a implantação de resorts, parques de diversão, shopping - center etc. Ou seja, é uma localidade em que o processo de urbanização foi, ao mesmo tempo, um processo de urbanização turística do lugar. Outras localidades turísticas criadas a partir de projetos urbano-turísticos planejados e tidas como paradigmas, são Cancún, no México, e Las Vegas, nos Estados Unidos.

Também como exemplo de transformação de território turístico com aproveitamento de represas para fins de exploração de esportes náutico merece destaque as cidades de Avaré, com a “Represa de Jurumirim” e Bragança Paulista, com a “Represa de Jaguari”, ambas no Estado de São Paulo. Lá são praticadas competições a mais diversa quer seja de esqui-aquático, Wind-surf, motonáutica, as tradicionais velas e canoagem, atraindo, sempre, grande número de turistas.

Quando estamos viajando de Aracaju para Paulo Afonso, via Canindé do São Francisco, surpreendemo-nos com a quantidade de ônibus e vans com turistas provenientes de Xingó, numa prova de que Piranhas, em Alagoas e Canindé do São Francisco, em Sergipe, souberam transformar aquela região em um território turístico. Esses mesmo turistas poderiam chegar até Paulo Afonso. Paulo Afonso nunca demonstrou interesse neles. Glória pode demonstrar.


É sabido que o tempo de um governo é pouco para a transformação de um território com o gravame de que, muitas vezes, a descontinuidade político-administrativa impede a consecução de qualquer política ou plano de médio e longo prazo. Mesmo assim, os megaprojetos turísticos Costa Dourada, em Pernambuco, e Linha Verde, na Bahia, são exemplos de urbanização turística planejada centrada na implantação de infra-estrutura hoteleira, sem equivalente no Brasil e que tiveram continuidade mesmo com descontinuidade política.

No caso da cidade de Glória, em termos de turismo, inicialmente há a perspectiva de revitalização do logradouro “Balneário Recanto das Águas” que, sabemos, é importante, mas, não é o suficiente. No Lago de Moxotó e em sua margem existe todo um potencial turístico inexplorado.


MOXOTÓ: O RESGATE DE UMA DÍVIDA SOCIAL.

Nunca é demais ressaltar que toda a margem ribeirinha do Município de Glória foi violentamente prejudicada na década de setenta quando suas melhores terras (e a cidade, inclusive) ficaram submersas para implantação do Lago de Moxotó. Naquela ocasião seus moradores tiveram as benfeitorias indenizadas, mas a terra, não.

Mais de 660 hectares de terras férteis, de primeira qualidade, enriquecidas que foram pelo húmus das enchentes do Rio São Francisco ao longo de séculos, foram submersas. Caso referidas terras tivessem sido indenizadas, seu valor a preço de hoje giraria em torno de R$ 7.920.000,00 (sete milhões, novecentos e vinte mil reais) que o Governo Federal, através da CHESF, deixou de despender. Portanto, o que for feito, hoje, pelo Governo Federal, seja na Quixaba, Freitas, Porto da Serra e demais localidades da margem do Lago de Moxotó será, simplesmente, nada mais, nada menos, que o resgate de uma dívida social.

O jornalista Jânio Soares, atual Secretário de Turismo do Município de Paulo Afonso, em seu artigo “A Noite dos Filhos Ausentes“, escreveu:
Glória, para quem não é da região, foi à cidade que mais sofreu com uma das primeiras transposições do rio São Francisco. É tanto que se alguém comentar com seus moradores mais antigos sobre essa de agora, muitos darão de ombro, franzirão a testa e dirão: “pior foi à outra”. A outra, a que eles se referem, aconteceu no inicio dos anos 70 quando a Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco) desviou as águas do rio para que fosse construída a barragem de Moxotó e a usina Apolônio Sales, o que ocasionou o desaparecimento definitivo da centenária cidade. Na ocasião, os glorienses viram toda a sua história e seus sonhos irem, literalmente, por água abaixo, sem sequer uma orientação sobre o que estava realmente acontecendo. Aliás, o que ocorreu por aqui foi de uma violência tão absurda e inexplicável, que até hoje a população não entende muito bem como o mesmo rio que carinhosamente lhe lambia as costas foi capaz de lhe tirar a vida.

Embora divirjamos politicamente do jornalista Jânio Soares, somos forçados a reconhecer que ele tem razão, todavia, quando ele foi secretário de turismo de Glória, nada, absolutamente nada fez, em benefício desse mesmo povo.

E hoje, o que é feito da população ribeirinha do Lago de Moxotó?...

Se olharmos para as crianças, todas sabem nadar, mas não nadam. Não praticam esporte algum e quando vão para o Lago é para tomar banho ou pescar para ajudar aos pais. Estudam pouco e freqüentam a escola o suficiente para os pais receberem o bolsa-família. Quando chegam aos dezoito anos saem para o sul do País e, quando são bafejados pela sorte, conseguem vaga no setor da construção civil e transformam-se em ajudante de pedreiro. Raras são as exceções.

COMO O GOVERNO FEDERAL PODERÁ RESGATAR A DÍVIDA :


O Governo do Presidente Lula ao implantar o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento tem dado ênfase à infra-estrutura urbana e o Município de Glória não pode ficar de fora. Por esta razão, ao se elaborar a proposta de política para o turismo em nosso Município enfatizamos, também, e, sobretudo, a infra-estrutura das localidades beneficiadas.

A partir da revitalização do Balneário “Recanto das Águas”, poder-se-ia desenvolver um trabalho com vista a exploração do potencial turístico do Lago de Moxotó com implantação de Centros Turísticos em Porto da Serra, Freitas e Quixaba, por exemplo.

Nessas localidades seriam construídos quiosques para comercialização de produtos artesanais, camisetas, bonés e apetrechos os mais diversos para a prática de esporte náutico, bares e restaurantes. (Em Porto Seguro os índios Pataxós montaram o “Patashopping” para comercializarem seus produtos).

Toda a região seria beneficiada com serviços de abastecimento dágua, esgoto, recuperação da iluminação, reforma ou feitura de calçamento, construção de praças etc., pois, como afirma Sanchez, “a grande maioria das pessoas que fazem turismo são originária de centros urbanos e buscam como turistas, o atendimento de necessidades urbanas trazidas de seus lugares de origem”.

A implantação de escolas para treinamento de esportes náuticos nos povoados de Freitas e Porto da Serra beneficiaria a população local que aprenderiam a praticar esportes náuticos e depois serem instrutores. Estas escolas seriam operadas, inicialmente, por pessoas experientes trabalhando inicialmente na formação de instrutores, recrutados junto a moradores das próprias localidades que, depois, iriam instruir os turistas a praticarem Wind-surf, canoagem etc., sempre com a realização de eventos os mais diversos, capazes de atrair turistas do mundo inteiro.