sábado, 31 de dezembro de 2011

PRAÇAS DE AUTO-AJUDA

Várias pessoas estão me indagando qual a melhor praça para dar pipocas aos pombos. Sinceramente é difícil de responder. A primeira alternativa seria a Praça de São Marcos, em Veneza. Todavia existem três restrições que julgo altamente importante.

A primeira restrição é ao fato de que na Praça de São Marcos praticamente não há bancos para você se sentar e a segunda é que a Prefeitura de Veneza editou uma lei considerando crime dar comidas para os pombos.

Mas, mesmo se a praça tivesse bancos e fosse permitido dar comida aos pombos a terceira restrição seria fatal. Já pensou no fato de que você poderia estar sentado na praça e de repente ver ao seu lado o Diogo Mainardi?... Aí a sua auto-estima, já abalada, iria para a parte mais funda do fundo do poço.

Outra opção que pensei foi a Praça Vendôme em Paris que é uma das mais bonitas da cidade. Pequena, simples, limpa, nem árvores possui. Ai reside o primeiro problema. Não tem arvore, não tem banco nem pombos. O segundo problema é que mesmo se tivesse bancos e pombos você poderia optar em subir na Torre Eiffel, fazer compras na Avenida dos Champs Elisée ou simplesmente andar pelo Jardin des Tuilleries. Ou seja, Paris não é indicada. O objetivo da terapia é dar pipoca prá pombos.

Ainda em termos de praça teríamos como opção a Praça de Maio em Buenos Aires que ainda é o epicentro de acontecimentos de grande importância para a cidade e o país. É lá que várias mães se reúnem com fotos de seus filhos desaparecidos quando da ditadura militar e pedem notícias dos mesmos.

Mas a praça tem pouquíssimos bancos e não me lembro de ter visto pombos por lá. Além do mais, você pode querer dançar um tango, andar pela feira de San Telmo ou fazer compras na Calle Florida se esquecendo das pipocas mas se lembrando de comer um suculento bife de chorizo acompanhado de um excelente vinho. Fuja de Buenos Aires.

Eu não conheço a Praça Raposo Tavares, em Maringá, no Paraná. Dizem que tem muitos pombos mas não falam em bancos de praça. Se você quiser conhecê-la sugiro que dê uma esticada até Foz do Iguaçu e depois vá até Curitiba, mas não se esqueça das pipocas.

Perigoso, também, é você ir até a Praça da Sé, em São Paulo. Também não a conheço mas dizem que lá tem muitos pombos. O perigo reside no fato de que você estando na praça pode ter vontade de ir até um botequim e lá se encontrar com Gustavo Pedrosa. Será catastrófico.

Você não vai resistir. Vai tomar vinho, cerveja, cachaça, ouvir poesias e mais poesias, comer todos os tipos de tira-gostos e, o que é pior, até suas pipocas entrarão para o cardápio.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

SOBRE LIVROS DE AUTO-AJUDA

Hoje eu vou falar para vocês sobre os livros de auto-ajuda que não li e sobre aqueles que tive a oportunidade de folhear.Livro de auto-ajuda, vocês sabem, é aquele que ajuda o autor e editor a sair da miséria. Se vocês prestarem atenção todos os livros intitulados de auto-ajuda chamam vocês de incompetentes, burros, preguiçosos, errados e dizem, ainda, que com os livros de auto-ajuda você dá a si mesmo a chance de encontrar o conhecimento que lhe falta para reconstruir sua auto-estima. Ou seja, para eles sua auto-estima está abalada, você é um complexado, nada dá certo...

Tem um tal de Deepak Chopra que escreveu um livro intitulado “O Caminho Para a Felicidade Suprema” onde vocês aprendem, na página 89, que “ATENÇÃO PLENA” quer dizer “PRESTAR ATENÇÃO”. Genial. Aprendem, também, lendo a quarta chave (pág. 67) que vocês devem desistir de ter razão porque “TER RAZÃO IMPLICA QUE ALGUÉM DEVE ESTAR ERRADO”...

Eu não desistirei nunca de ter razão. Mesmo que eu esteja errado eu terei razão porque meu erro não terá sido voluntário. O fato de eu estar errado justifica o fato de eu não ter razão. Por conseguinte, eu estarei certo em não ter razão porque eu errei quando estava errado. Ou seja, mesmo errado e sem razão eu estava certo. Esta é a lógica da vida. Tudo tem sua razão de ser.

Por exemplo, se você pensa que está decepcionado, que sofre de um complexo qualquer, que pensa que tudo que faz dá errado e começa a ler um livro de auto-ajuda você acha que necessita de apoio quando, na verdade, você não precisa de apoio, vez que o simples fato de você começar a ler um livro já é prova suficiente de que sozinho tem condições de superar as adversidades, seja lendo um livro de auto-ajuda seja lendo um livro de Balzac.

O ideal para os casos em que as pessoas pensam que precisam de livros de auto-ajuda é que elas saibam que realmente deles não necessitam. Se pensarem que precisam, tal fato, por si sós já é um dado altamente precioso porque estão pensando. Se estiverem a pensar devem pensar com seus próprios pensamentos e não com o pensamento dos outros.

Por isto recomendo que se vocês estão decididos a gastarem vinte ou trinta reais na compra de livros de auto-ajuda, peguem o dinheiro e comprem sacos de pipoca. Sentem-se em um banco de praça e comecem a comer pipoca. Se tiver algum pombo dê pipocas para eles e não se acanhem de oferecer pipocas para seu vizinho de banco.

No fim da tarde você sairá da praça alegre e feliz da vida cantando qualquer música. Zé Geraldo tinha uma música que dizia; “... e eu aqui na praça dando milho aos pombos...”. Faça como ele de uma maneira mais sofisticada. Ao invés de milho dê logo a pipoca pronta e seja muito feliz.

(Notou que se eu escrever sessenta páginas iguais a esta já posso publicar um livro de auto-ajuda?... Vou comprar um saco de pipoca para pensar na próxima página.)

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

LEMBRANÇAS DO DR.XAVIER

Quero lembrar o Dr. Xavier sempre pelos bons momentos que vivemos. Por esta razão irei contar alguns fatos que contribuiram para aumentar sempre a minha admiração por ele.

O DIREITO E O CURRAL DE BOI

Certo dia um cidadão procurou o Dr. Xavier e disse:

- Doutor, eu estive na cidade de Guarabira e um advogado falou que eu perderia a questão. O negócio é o seguinte: Vendi um gado e o comprador não me pagou. O advogado disse que como eu só tenho prova testemunhal o máximo que eu posso cobrar são dez salários mínimos. O camarada me deve mais de cem salários mínimos.

Dr. Xavier então perguntou:
- Você tem testemunha do negócio feito?

Como o cidadão afirmou que sim, Dr. Xavier disse que aceitava a questão, mas não garantia o resultado. Quando ficamos a sós, eu disse:

- Mas Doutor, realmente o código diz que a prova somente testemunhal só é admissível para questões até dez salários mínimos.

Dr. Xavier falou: (ele me chamava de Fernandes)

- Ora Fernandes, se o código admite exceção para negócios feitos em quarto de hotel, imagine para negócio feito em curral de boi...

Deu uma gargalhada e arrematou:

- Essa questão a gente vai ganhar.

Ganhou. No meu entender foi, dentre muitas, a mais brilhante vitória que Dr. Xavier obteve no Tribunal de Justiça da Paraíba. Toda a tese teve como embasamento a exceção prevista no inciso II do art. 402 do CPP.


DR. XAVIER E O AVANÇO DA TECNOLOGIA

Nos idos de 1978 não tínhamos computador nem xerox. As petições eram datilografadas e para cada cópia uma folha de carbono. A gente procurava esmerar na estética da petição. A margem direita da linha tinha sempre seu alinhamento (hoje utilizamos o recurso “justificar” no Word). Naquele tempo era um exercício de paciência. Um erro e tínhamos que refazer toda a petição.

Certo dia, estávamos conversando, e ele falou que vários juízes e pessoal de cartório o parabenizavam pela qualidade do trabalho. Claro que eu também ficava envaidecido. Falei então para ele:

- A IBM lançou uma máquina elétrica com corretivo e esferas para cada tipo de letra. Uma esfera (tipo arial) pode ser utilizada no normal da petição, outra esfera (tipo courier) para citações de jurisprudência, outra (verdana) para doutrina e a itálica só para o latim. Depois de pronta a petição a gente grava e tira quantas cópias quiser.

Ele perguntou sobre o preço e eu disse que não sabia. Voltei para o Recife e Beth ficou em Belém. No outro final de semana Beth voltou para Recife e Dr. Xavier veio com ela. Quando ele chegou lá em casa, para minha surpresa falou:

- Amanhã vamos comprar aquela máquina.

A máquina foi um sucesso. Dr. Xavier dizia que até no Tribunal estava recebendo elogios pelas petições feitas. Certo dia ele pediu para eu ir urgente até Belém. Ele precisava ajudar na defesa de um Juiz que havia sido denunciado ao Tribunal.

O Juiz (muito amigo da família) já havia elaborado a sua defesa e o Dr. Xavier não estava gostando. Achava que estava faltando alguma coisa. Modificou o que achava que devia modificar e acrescentou muita coisa. Passamos o sábado trabalhando na peça e quando foi à noite o Juiz foi até a casa de Dr. Xavier.

Ao ver a petição com citação de jurisprudência de um jeito, doutrina de outro e latim em itálico exclamou:

- Xavier, não preciso nem ir ao Tribunal, posso até não me importar mais com a representação, porque depois que esta petição chegar ao Tribunal desembargador nenhum vai ter coragem de dizer que ela está feia ou tem defeitos.

A representação foi arquivada por unanimidade.



DR. XAVIER E OS LIVROS

A biblioteca do Dr. Xavier fazia inveja a muita gente e, claro que a mim também. Livro para ele não era enfeite de estante. Era para leitura mesmo. Lia e sublinhava aquilo que achava interessante. Eu admirava a sua memória. Muitas e muitas vezes a gente estava conversando sobre determinando assunto e, por exemplo, se eu dissesse que na petição estava faltando uma jurisprudência ou citação doutrinária, ele lia a petição e dizia:

- Já sei onde encontrar.

Procurava o livro, brigava com Dona Maria, com Lindalva e quando achava o livro o abria na página que queria. Lá estava o que buscava devidamente sublinhado. Dezenas de vezes tal cena se repetiu. Em todas, em todas, repita-se, ele acertava.

E mais admirável, ainda, é que dizia antecipadamente se era de Orosimbo Nonato, Clóvis Bevilácqua, Washington Monteiro ou quem quer que fosse. Era uma memória prodigiosa. Sinto saudades.