sábado, 22 de janeiro de 2011

AO POETA GUSTAVO PEDROSA

Hoje é o aniversário de Gustavo Pedrosa que dentre muitas qualidades é o pai de minhas netas Tarsila e Lavínia e depois poeta. Na preciosa obra “Livro das Canções Embriagadas” o outro grande poeta Leonardo Neves escreveu:

SINGELA HOMENAGEM AO ANIVERSARIANTE
Ao amigo e eterno poeta Gustavo Pedrosa

O bê-bardo faz aniversário e um poema
de si para si
feito um menino sozinho trancado no banheiro
um sujeito comovido com a própria virilidade
um velho com saudade dos bondes

O bê-bardo está mais velho
não velho
apenas sem as franjas e sem as fraldas
e seu calibre já não põe à noite a prova
nem a língua chora suas amantes inexistentes

Agora o goleiro sem luvas tem as mãos perfumadas
e fez um tratado de paz com o inferno
para ter a casa cheia de fadas e amigos
o bar cheio
e as árvores repletas de colcheias.


Discordo do meu amigo Leonardo Neves porque para Gustavo ter a casa cheia de fadas e amigos não precisa fazer “tratado de paz com o inferno”.
Também para Gustavo não existe “bar cheio”. Para ele sempre haverá uma mesa disponível, um chope gelado, lápis e papel para escrever seus poemas. Poemas como este que a seguir transcrevo.

Quando do falecimento de Seu Luiz (pai do poeta Leonardo Neves) Gustavo nos comunicou a perda e no mesmo momento, sensibilizado, escreveu:

As bandeiras rubro-negras estão enroladas
A camisa do Sport na ombreira
O baralho no armário
As pedras do dominó recolhidas.

Os frevos, os poemas de outrora
Que traziam sempre junto o sorriso farto Luiz
Serão memórias cantadas e recitadas
Por filhos e amigos

O jabuti que desfilava frutos e canas
Está ressequido e os pierrôs errantes
Não encontram mais ladeiras para subir
Uma planície devastada insalubre em seu lugar

As curvas do hipódromo são retas sem fim
Os pernis defumados no quintal do caldão
Os caldeirões de sabores próprios
Uma geografia tão própria e tão distante agora

Vai Luiz, vai, divertir teus irmãos, teus amigos do além
Subverter as regras de lá como as daqui
Rir da tua dor
Reescrever uma nova gramática

Resta-nos a saudade
As homenagens póstumas
Os objetos do teu dia a dia
Tua arte.

É assim o meu amigo Gustavo. Até mesmo nos momentos de profunda dor pela perda do amigo ele encontra inspiração para prestar sua última homenagem em forma de poesia.

E em homenagem a Gustavo a roça está alegre. As árvores estão cheias de frutas. As roseiras brotam e os pássaros cantam. Até mesmo “galos de campina” que nunca antes tinham aqui aparecido, agora também freqüentam a roça.

Como não poderia deixar de ser, eu e Beth iremos beber nossa cerveja gelada nas margens do “Velho Chico” e lembrar dos tucunarés e das farras que aqui fizemos na companhia de Gustavo. Parabéns Gustavo.