sábado, 4 de dezembro de 2010

MEUS PASSOS

Estou há mais de 15 dias sem andar. No início uma dor na perna esquerda conseqüência de uma trombo flebite mal tratada de quase vinte anos. Fui ao médico que passou uma medicação e uma ultrasonografia para saber como estava a circulação na perna. O exame mostrou que a circulação estava satisfatória, não havia necessidade de cirurgia, apenas medicação.

Como a perna apresentava uma crosta muito forte de pele estragada o médico resolveu fazer uma limpeza que foi feita sem anestesia provocando uma dor terrível. Parecia uma sessão de tortura.

Para cada pinçada que ele dava, perguntava: doeu?

Eu respondia: não.

Ele dizia: cabra macho!!!

Mas na verdade, para cada pinçada que ele dava arrancando um pedaço da minha pele, uma lágrima furtiva caia ora do olho esquerdo ora do direito. Lembrei-me do sofrimento de Dilma Roussef sendo torturada pela ditadura.

Em casa, com o apoio de Beth (incansável), dei continuidade ao tratamento, mas sem poder andar. Deitado na rede ou sentado em uma cadeira, Beth trazia o cafezinho, o “mastruz com leite”, o cigarro. Beth substituiu a minha perna.

Na rede eu pensava no muito que tinha a fazer e não tinha condições de realizar. Vinha a minha lembrança a promessa de Tatá e Lalá de que quando eu fosse velhinho elas me levariam para passear. Naquela oportunidade não cogitamos da possibilidade de eu ficar sem meus passos.

Hoje, sem meus passos, sem poder andar pela roça, sem poder dirigir, eu me lembro da canção de Barrerito quando ele ficou paraplégico. Ele cantava:

“...Meus passos onde estão os meus passos
Que esqueceram meu corpo, que é levado nos braços
Meu Deus um pedido eu queria fazer
Se um dia o senhor me atender, devolva meus passos...”