segunda-feira, 23 de março de 2009

LAGO DE MOXOTÓ: SUA EXPLORAÇÃO

INTRODUÇÃO:


É sabido que as infra-estruturas urbana e turística estão na base da atratividade dos lugares para o turismo, considerando-se, inclusive, suas modalidades ditas alternativas (ecológico, de aventura etc). O município de Glória teve submersas suas melhores áreas agricultáveis. Em contrapartida ganhou uma represa (Moxotó) que convenientemente explorada poderá compensar a perca das terras antes destinadas a agricultura.

Maria Tereza Luchiari afirma que “as paisagens turísticas, por sua vez, não existem, a priori, como um dado da natureza” e Rita de Cássia Cruz, em sua preciosa obra “Política de Turismo e Território” conclui: “Diferentemente das paisagens urbanas, das paisagens rurais, das paisagens industriais... as paisagens turísticas não são caracterizadas por um sistema de objetos que lhe seja particular, específico. As paisagens turísticas derivam da valorização cultural de determinados aspectos das paisagens, de modo geral, e, nesse sentido, toda paisagem pode ser turística.“.

Ora, se toda paisagem pode ser turística, Glória tem uma das melhores paisagens do mundo.


EXEMPLOS DE ÁREAS TRANSFORMADAS:

É ponto pacífico que o turismo concorre para o processo de transformação dos territórios para seu uso, e sua força é dada por sua capacidade “de criar, de transformar e, inclusive, de valorizar, diferentemente, espaços que podiam não ter valor no contexto da lógica de produção... (Daniel H. Nicolas in ”Teoria y práxis del espacio turístico”. México, 1989, apud Rita de Cássia Cruz op. cit. Pág, 17).

Quem visita Buenos Aires é convidado pelos agentes de turismo receptivo a fazer o passeio no Trem de La Costa e, em Tigre, no delta do Rio de La Plata, a fazer um passeio de escuna ou catamarã onde são mostradas as casas construídas nas margens do rio. Os turistas pagam caro para ver a casa dos ribeirinhos. A visão geral é muito bonita.

É verdade que não podemos comparar, atualmente, a realidade de Buenos Aires com Paulo Afonso nem a de Glória com Tigre. O exemplo retro citado de Tigre, na Argentina, foi em função da exploração do Rio de La Plata que ensejou, depois, a implantação de resorts, parques de diversão, shopping - center etc. Ou seja, é uma localidade em que o processo de urbanização foi, ao mesmo tempo, um processo de urbanização turística do lugar. Outras localidades turísticas criadas a partir de projetos urbano-turísticos planejados e tidas como paradigmas, são Cancún, no México, e Las Vegas, nos Estados Unidos.

Também como exemplo de transformação de território turístico com aproveitamento de represas para fins de exploração de esportes náutico merece destaque as cidades de Avaré, com a “Represa de Jurumirim” e Bragança Paulista, com a “Represa de Jaguari”, ambas no Estado de São Paulo. Lá são praticadas competições a mais diversa quer seja de esqui-aquático, Wind-surf, motonáutica, as tradicionais velas e canoagem, atraindo, sempre, grande número de turistas.

Quando estamos viajando de Aracaju para Paulo Afonso, via Canindé do São Francisco, surpreendemo-nos com a quantidade de ônibus e vans com turistas provenientes de Xingó, numa prova de que Piranhas, em Alagoas e Canindé do São Francisco, em Sergipe, souberam transformar aquela região em um território turístico. Esses mesmo turistas poderiam chegar até Paulo Afonso. Paulo Afonso nunca demonstrou interesse neles. Glória pode demonstrar.


É sabido que o tempo de um governo é pouco para a transformação de um território com o gravame de que, muitas vezes, a descontinuidade político-administrativa impede a consecução de qualquer política ou plano de médio e longo prazo. Mesmo assim, os megaprojetos turísticos Costa Dourada, em Pernambuco, e Linha Verde, na Bahia, são exemplos de urbanização turística planejada centrada na implantação de infra-estrutura hoteleira, sem equivalente no Brasil e que tiveram continuidade mesmo com descontinuidade política.

No caso da cidade de Glória, em termos de turismo, inicialmente há a perspectiva de revitalização do logradouro “Balneário Recanto das Águas” que, sabemos, é importante, mas, não é o suficiente. No Lago de Moxotó e em sua margem existe todo um potencial turístico inexplorado.


MOXOTÓ: O RESGATE DE UMA DÍVIDA SOCIAL.

Nunca é demais ressaltar que toda a margem ribeirinha do Município de Glória foi violentamente prejudicada na década de setenta quando suas melhores terras (e a cidade, inclusive) ficaram submersas para implantação do Lago de Moxotó. Naquela ocasião seus moradores tiveram as benfeitorias indenizadas, mas a terra, não.

Mais de 660 hectares de terras férteis, de primeira qualidade, enriquecidas que foram pelo húmus das enchentes do Rio São Francisco ao longo de séculos, foram submersas. Caso referidas terras tivessem sido indenizadas, seu valor a preço de hoje giraria em torno de R$ 7.920.000,00 (sete milhões, novecentos e vinte mil reais) que o Governo Federal, através da CHESF, deixou de despender. Portanto, o que for feito, hoje, pelo Governo Federal, seja na Quixaba, Freitas, Porto da Serra e demais localidades da margem do Lago de Moxotó será, simplesmente, nada mais, nada menos, que o resgate de uma dívida social.

O jornalista Jânio Soares, atual Secretário de Turismo do Município de Paulo Afonso, em seu artigo “A Noite dos Filhos Ausentes“, escreveu:
Glória, para quem não é da região, foi à cidade que mais sofreu com uma das primeiras transposições do rio São Francisco. É tanto que se alguém comentar com seus moradores mais antigos sobre essa de agora, muitos darão de ombro, franzirão a testa e dirão: “pior foi à outra”. A outra, a que eles se referem, aconteceu no inicio dos anos 70 quando a Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco) desviou as águas do rio para que fosse construída a barragem de Moxotó e a usina Apolônio Sales, o que ocasionou o desaparecimento definitivo da centenária cidade. Na ocasião, os glorienses viram toda a sua história e seus sonhos irem, literalmente, por água abaixo, sem sequer uma orientação sobre o que estava realmente acontecendo. Aliás, o que ocorreu por aqui foi de uma violência tão absurda e inexplicável, que até hoje a população não entende muito bem como o mesmo rio que carinhosamente lhe lambia as costas foi capaz de lhe tirar a vida.

Embora divirjamos politicamente do jornalista Jânio Soares, somos forçados a reconhecer que ele tem razão, todavia, quando ele foi secretário de turismo de Glória, nada, absolutamente nada fez, em benefício desse mesmo povo.

E hoje, o que é feito da população ribeirinha do Lago de Moxotó?...

Se olharmos para as crianças, todas sabem nadar, mas não nadam. Não praticam esporte algum e quando vão para o Lago é para tomar banho ou pescar para ajudar aos pais. Estudam pouco e freqüentam a escola o suficiente para os pais receberem o bolsa-família. Quando chegam aos dezoito anos saem para o sul do País e, quando são bafejados pela sorte, conseguem vaga no setor da construção civil e transformam-se em ajudante de pedreiro. Raras são as exceções.

COMO O GOVERNO FEDERAL PODERÁ RESGATAR A DÍVIDA :


O Governo do Presidente Lula ao implantar o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento tem dado ênfase à infra-estrutura urbana e o Município de Glória não pode ficar de fora. Por esta razão, ao se elaborar a proposta de política para o turismo em nosso Município enfatizamos, também, e, sobretudo, a infra-estrutura das localidades beneficiadas.

A partir da revitalização do Balneário “Recanto das Águas”, poder-se-ia desenvolver um trabalho com vista a exploração do potencial turístico do Lago de Moxotó com implantação de Centros Turísticos em Porto da Serra, Freitas e Quixaba, por exemplo.

Nessas localidades seriam construídos quiosques para comercialização de produtos artesanais, camisetas, bonés e apetrechos os mais diversos para a prática de esporte náutico, bares e restaurantes. (Em Porto Seguro os índios Pataxós montaram o “Patashopping” para comercializarem seus produtos).

Toda a região seria beneficiada com serviços de abastecimento dágua, esgoto, recuperação da iluminação, reforma ou feitura de calçamento, construção de praças etc., pois, como afirma Sanchez, “a grande maioria das pessoas que fazem turismo são originária de centros urbanos e buscam como turistas, o atendimento de necessidades urbanas trazidas de seus lugares de origem”.

A implantação de escolas para treinamento de esportes náuticos nos povoados de Freitas e Porto da Serra beneficiaria a população local que aprenderiam a praticar esportes náuticos e depois serem instrutores. Estas escolas seriam operadas, inicialmente, por pessoas experientes trabalhando inicialmente na formação de instrutores, recrutados junto a moradores das próprias localidades que, depois, iriam instruir os turistas a praticarem Wind-surf, canoagem etc., sempre com a realização de eventos os mais diversos, capazes de atrair turistas do mundo inteiro.

Um comentário:

  1. Duduzinho!!! adorei seu blog, pequena a origem né? kkkkkkkk saudades, te amo x3

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